Por Milene Andrade, Educadora do Grupo AdoleScER
O Grupo AdoleScER, em parceria com o Grupo Ruas e Praças, por meio do projeto Redução de Violência através do Engajamento Cívico de Jovens e a Cooperação entre Sociedade Civil e o Estado no Nordeste do Brasil, apoiado por Cáritas Alemã, vem desenvolvendo ações que visam refletir sobre a pauta de Segurança Pública nos territórios periféricos, sobretudo no bairro de Santo Amaro, que fica localizado na cidade do Recife, onde as instituições atuam com jovens, famílias e rede comunitária.
A demanda surge a partir dos relatos da população sobre a atuação da Polícia Militar nas periferias, a realização de abordagens policiais truculentas, o que também é indicado nos resultados da Pesquisa de Impacto da Violência, aplicada a cada ano neste projeto a partir das instituições elencadas acima.
Ainda no ano de 2021 foi promovida a primeira ação com foco nessa temática: Workshop de Cultura de Paz – Um olhar diferenciado para a segurança pública, com o apoio do Instituto Sou da Paz. A proposta visava tornar público os resultados da pesquisa aplicada pelo projeto para moradores da comunidade, juventude, rede comunitária, parceiros e para a própria polícia com o intuito de, coletivamente, pensar em estratégias possíveis de serem executadas de modo a transformar ao menos um pouco a realidade que já criou tantas marcas de violência na população. Mesmo diante de muita articulação, o evento ocorreu sem a participação de representantes da Polícia Militar, estabelecendo uma barreira ainda mais forte entre esta instituição e a população.
Já em 2022 as articulações foram retomadas na perspectiva de envolver os responsáveis por promover a segurança pública numa comissão que estruturaria a Campanha sobre Abordagem Policial. Com o apoio de parceiros da Secretaria de Defesa Social, essa comissão foi possível ao longo de 04 encontros, formada pelas seguintes instituições: Grupo AdoleScER, Grupo Ruas e Praças, Comissão de Direitos Humanos da OAB, Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP), Fundação de Apoio ao Centro de Assistência Social da PMPE, Mandato do Vereador Ivan Moraes, Secretaria de Defesa Social e Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos da Polícia Militar de Pernambuco, se reuniu no intuito de encontrar caminhos possível para a promoção de cultura de paz nos territórios periféricos, com foco na comunidade de Santo Amaro.
Desses encontros foi estruturada uma proposta de campanha, intitulada: “Santo Amaro Comunica Paz”. A ação contou com a construção de um Guia prático sobre abordagem policial (O que é uma abordagem, como reagir a uma abordagem, como deve ser realizada e em caso de excessos, como a população pode denunciar), além de outros materiais de comunicação que serão utilizados nas ações de disseminação da Campanha.
A proposta tem o objetivo de dar visibilidade e promover o debate sobre abordagens policiais, Direitos Humanos e Cultura de Paz, no referido território, e, é voltada, em especial, aos adolescentes e jovens que estão diretamente ligados às instituições organizadoras. O evento de Lançamento da ação também marcou a apresentação e divulgação do “Manual: Comunidades em Movimento no Enfrentamento à Violência” elaborado com base nas experiências do projeto com as juventudes, com os núcleos de mediação e com a rede comunitária.
Diante das articulações prévias, contatos com a imprensa local e envolvimento dos parceiros, o evento ocorrido na Universidade Católica de Pernambuco, contou com uma adesão importante da população, fazendo refletir que, tratar sobre esse tipo de problemática (violência policial) é algo urgente. Apesar da campanha partir da realidade de Santo Amaro, muitas foram às falas e desabafos de pessoas de outras periferias.
Mulheres que relatam o medo que sentem de seus filhos adolescentes e jovens, sobretudo homens e negros serem abordados nas operações policiais nas favelas. Mulheres que relatam como instruem seus filhos a reagir a uma investida policial, na tentativa de não sofrer represália. Depoimentos que deram “nó na garganta” dos presentes.
Este foi um passo importante na longa caminhada que ainda será percorrida, na busca por respeito, dignidade e igualdade para toda a população, estando ela na favela ou não. Sendo ela instruída ou não. Estando ela no mercado de trabalho ou não. Todas as pessoas têm o direito de ir e vir e é dever do estado ofertar segurança a população.