O congresso das Juventudes, trata-se de uma articulação entre a sociedade civil organizada, Grupo AdoleScER, Grupo Ruas e Praças e Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste e os governos dos estados de Pernambuco e da Paraíba, com o apoio da Caritas Alemã, tendo como objetivo promover o diálogo político das juventudes junto aos representantes políticos/públicos sobre os cenários das violências vivenciadas por jovens nos dois estados. Este Congresso surge em meio a uma conjuntura política preocupante em nosso país, onde muitos direitos conquistados pela população estão sendo retirados/revistos e a juventude tem sido afetada diretamente.
Foram criados, nos dois estados cerca de 110 (cento e dez) núcleos territoriais que agregaram, num período de 02 (dois) meses, uma média de 2.300 (dois mil e trezentos) jovens que discutiram sobre violências e estratégias de intervenção viáveis à cada realidade, durante as oficinas preparatórias para o Congresso. Dos 55 núcleos territoriais criados em nosso estado (PE) foram eleitos 190 jovens para participar dos dois dias do congresso, representando os seus núcleos e apresentando tudo o que foi construído por sua equipe ao longo dos dois meses. Esse processo se faz necessário por entendermos que é fundamental dialogar com as diversas juventudes para que as mesmas possam reconhecer seu potencial enquanto protagonistas capazes de contribuir com a mudança frente às diversas violações de direitos.
A partir do indicativo dos territórios foram criados 10 eixos temáticos que dividiram as juventudes em oficinas durante o congresso, de acordo com o interesse individual e coletivo, pensando em cada núcleo, para um aprofundamento da discussão já iniciada no campo e na cidade, sendo eles: violência no contexto escolar, violências urbanas (assalto, tráfico de drogas e etc.), violência contra a juventude do campo, violência contra juventudes de povos e comunidades tradicionais, violência contra a juventude negra, violências institucionais, violências em contextos cibernéticos (redes sociais), violências e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero ou LGBTQIfobia, violência doméstica e intrafamiliar contra meninas e mulheres, família e violências.
O que vimos nesses dois dias de atividade foi uma juventude empoderada discutindo sobre políticas públicas em meio a nossa difícil conjuntura política e a tantas dificuldades que vivenciam nos seus territórios, pautando junto aos representantes públicos dos seus estados temáticas que permeiam o cotidiano dos adolescentes e jovens mas que são pouco discutidas e contempladas nas políticas de governo dos estados/territórios. Vimos uma juventude cheia de talentos artísticos expressos através de poesias, músicas, cordéis, danças. Uma juventude diversa/plural e com um objetivo em comum: Ser vista, respeitada e valorizada como é.
O congresso não encerrou na vivência dos dois dias na Paraíba. Há muito por ser feito. Os gestores público se comprometeram de juntar 10 (dez) representantes das juventudes por estado para apresentar as pautas do congresso aos respectivos governadores, na intenção de ver muito do que foi construído sendo posto em prática nos territórios. As discussões em muitos dos núcleos criados para o Congresso continuam existindo. As juventudes se mostram fortes e resistentes na luta por uma sociedade mais justa e que garanta uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, estejam elas onde estiverem, no campo ou na cidade.
Por Milene Eustáquio, Pedagoga e Coordenadora do Projeto Redução de Violência através do Engajamento Cívico de Jovens e a Cooperação entre Sociedade Civil e o Estado no Nordeste do Brasil.
Outubro 2019